domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ausência sentida (01) - Capeto

   
No reduzido círculo do antigomobilismo baiano, alguns profissionais geraram um enorme vazio, fruto de uma ausência precoce. Essa nova série é uma justa homenagem a esses amigos que deixaram saudade!

 O Insight!

Na estreia, uma referência no minha própria história de entusiasta. A idéia surgiu durante o Encontro Anual de Veículos Antigos, organizado pelo Veteran Bahia, que aconteceu em dezembro passado. Durante a montagem da belíssima exposição na Praça do Campo Grande, um carro em especial trouxe-me uma enxurrada de recordações.


Era uma belíssima Ford F-100, caçamba step-side, do final dos anos 50 e início dos 60. Um modelo similar, da mesma cor, era presença destacada e constante nas ruas de Salvador durante os anos 80. Vendo esse belo exemplar, foi impossível não lembrar de ...

Capeto - Sinônimo de Mecânica!


Capeto trabalhava na indústria pesada, mas seu coração estava com os automóveis, de preferência os antigos. Conheci Capeto por causa de uma moto que eu tinha (?) na época, que necessitava de uma regulagem especial, devidamente ignorada pelas concessionárias da marca. Apresentados por um sobrinho - foi o início de uma grande amizade - ele já ensaiava uma oficina própria nas "brechas" da atividade principal.


Na época ele tinha um Zephir - Ford fabricado no Reino Unido - totalmente restaurado e devidamente personalizado. Preto na primeira fase, foi pintado de vermelho pouco antes da venda que acabou resultando na inesquecível F-100. Símbolo de uma "revisão de conceitos", a montagem da F-100 coincidiu com o "vôo solo" de Capeto, que abriu uma oficina - a Cappetos Kar - na ladeira da Água Brusca, atual point de Alemão!


Rodder de vocação, a pick-up que viria a ser seu principal cartão de visita foi resultado de muita dedicação e inspiradas adaptações. Recebeu uma mecânica diesel doada por uma D10 e uma infinidade de acessórios e acabamentos exclusivos, tornando-se um mito em seu próprio tempo. Gostava de contar, com seu sorriso característico, o recorde de bilhetinhos que achava no para-brisa com consultas sobre possível venda. Não por coincidência - visto o inconfundível espírito rodder - um desses "recados" foi mencionado recentemente por Ulisses Brito, mestre soteropolitano dos Hot Rods.


Polivalente e carismático, atuava em vários clubes e segmentos: enduro, trilhas, rallyes, jeeps, etc, tudo reflexo de seu espírito inquieto e aventureiro. Aqui vale uma curiosidade: quando comprei meu primeiro carro antigo - o bugre Kadron ainda não tinha esse status - a pick-up Chevrolet 1954 (Beiço Grosso ou Cara de Bagre), corri para mostrar a "novidade"! Capeto sorriu por reecontrar uma velha companheira: ele tinha trazido aquele exemplar - rodando e "quebrando" pelo caminho (rs,rs) - do Rio Grande do Sul.

Encarou o longo percurso com a veterana, confiante no seu talento mecânico. Resultado: apesar do diferencial ter sido trocado ainda em Santa Catarina, conseguiram chegar incólumes!



Essa coincidência ampliou nosso laço de amizade, o que gerou algumas iniciativas - frustradas - para o avanço do antigomobilismo na Bahia (futura postagem). Mudou a oficina  para o Santo Agostinho (Matatu), espaço que é cuidado até hoje por seu irmão Jean, referência em Jeeps e antigos.

Para finalizar, uma rara foto da carismática F-100 na bucólica Salvador dos anos 80, quando estacionar no gramado do Dique não se tornava um "caso de polícia".


Observem as poucas diferenças para o exemplar do Campo Grande: um sólido perfil em U no lugar do para-choque original e grade cromada, que mantinha o símbolo V8 apesar da mecânica 4cil. a diesel.

Por falar em "proibição", Capeto ficaria muito feliz com o resgate do Domingo no Farol (é hoje viu galera) - como lembrou Marco Medeiros - visto ter sido um pontual e visível frequentador. Em off: até cavalo-de-pau ele arriscava com a pesada e comprida parceira, sempre com maestria, o que levava a "platéia" à loucura. Quando questionado, ele sorria e acrescentava: o fundo é muito leve!


Capeto nos deixou muito precocemente, surpreendido pelo miocárdio. Num segmento tão carente de bons profissionais, Capeto faz muita falta, como mecânico e antigomobilista.

Valeu amigo!

Fotos: Sérgio Figueiredo, Jean Cappetos Ka e acervo pessoal.
       










6 comentários:

  1. Bonitas palavras!
    Que ele esteja em um lugar muito melhor que aqui!


    Nyd

    ResponderExcluir
  2. Opa, já favoritei o blog.
    Abraço

    Vinícius

    ResponderExcluir
  3. Grande Vinícius,

    Valeu amigo, bem-vindo!

    Um grande abraço,

    ResponderExcluir
  4. Morreu de infarto no seu apartamento em Amaralina, no dia 1o de maio de 1994, mesmo dia da morte de seu ídolo Airton Sena naquela curva de Ímola. Ha que diga que uma morte teve relacao com a outra. Eu acredito. Duas grandes perdas no mesmo dia.

    ResponderExcluir
  5. Conheci demais, tanto o Capeto quanto a picape...lembro que íamos para os rallye´s de regularidade na picape e onde passávamos ela chamava a atenção e muitos botando real na lindona, às vezes mais do que o valor de uma picape nova. Capeto era um cara sensacional, paciente, amigo, jeitão duro, era vivia com uma dentista chamada Selma, que acabou sendo minha dentista, gente muito fina e agradável... enfim, fiquei surpreso em ver as imagens que me fizeram recordar de quando morei em salvador no fim da década de 80, e tive a oportunidade de conviver com esse cara que sem dúvidas era à frente do seu tempo. Que Deus o tenha meu amigo Capeto!

    ResponderExcluir
  6. Com essa publicação pude conhecer um pouco mais da história de meu tio que ouvi algumas coisas de meu pai falar que é o jean que hoje atualmente está com a oficina. Linda homenagem

    ResponderExcluir