domingo, 14 de junho de 2015

Vender?


Vender ou não vender, eis a questão!

Talvez uma das maiores dificuldades dos verdadeiros antigomobilistas, essa dúvida tira o sono de muitos! Pessoalmente não tenho boas lembranças, pois as poucas vendas realizadas viraram arrependimentos quase instantâneos.

A segunda maior dificuldade: onde guardar essas "jóias" cuidadosamente garimpadas e lapidadas, que "parecem" se multiplicar ao longo do tempo? Exceto raras e honrosas exceções, com galpões ou garagens amplas, todos recorrem ao preenchimento das vagas pessoais, aluguel de espaços ou "invasões" nas casas de familiares e amigos.

Os resultados são bem conhecidos: exemplares espalhados, danos por causa de vagas descobertas, impróprias ou garagens comerciais e uma saudosa lembrança dos tempos das miniaturas, quando toda uma coleção poderia caber numa simples prateleira ou, quando muito, numa estante protegida.

Mesmo assim não é fácil abrir mão de um fragmento da história, seja da indústria, do veículo, dos ex-proprietários, da "aventura garimpeira" ou até mesmo pessoal/familiar.

SM 1986, "gema" pronta para lapidação. Foto: Sávio
No auge desse dilema pessoal, após perder a pintura original da Caravan - "despejada" uma primeira vez de vaga alugada - conversei com um grande e saudoso amigo/antigomobilista, que tinha duas características principais: restauração esmerada e personalizada de cada detalhe dos veículos por ele adotados; sistemática venda dos exemplares finalizados, apesar da inexistência de fins lucrativos.


Perguntei-lhe como era possível repassar, com certa tranquilidade, aqueles exemplares que tinham consumido incontáveis horas de trabalho, muita dedicação, alguns aborrecimentos (normalmente com o serviço dos "profissionais") e caça implacável aos detalhes e acabamentos?


Resumindo, os motivos e argumentações dele, que ecoam até hoje:
a - dificuldades em guardar e manter; 
b - oportunidade de investir em novos projetos; 
c - ampliar o número de resgates e restaurações; 
d - estimular novos antigomobilistas; 
e - apostar no desenvolvimento da mão-de-obra local; 
f - favorecer o intercâmbio de dicas e técnicas; 
g - renovar constantemente os desafios.



Mas a ideia principal - conclusão minha - era que "a jornada era a verdadeira aventura", muito mais importante do que a "chegada"!

O cuidado e competência, acompanhados de algumas frustrações e muitas vitórias que resultavam em extrema euforia, reforçam essa conclusão. O prazer em recuperar era maior do que o de manter!

Ele defendia a escolha de um ou dois exemplares para preservar e a promoção de uma sistemática rotatividade dos outros. A sua primeira escolha foi a Santa Matilde 1986 conversível, a mesma da abertura da postagem.

SM 86, quase finalizada e sem a capota de fibra.

O segundo modelo escolhido foi o MP 1975, que resgatou "a caminho da sucata"! Acabou não ficando com ele por causa daquela clássica situação que, volta e meia, atinge antigomobilistas "imprudentes": cansado das perguntas sobre possíveis preços, "chuta-se um valor impagável" ... até que alguém aceita e deixa o sujeito "sem chão", preso pela palavra!

Fica a dica: a não ser que tenham real intenção de venda, nunca arrisquem "chutar alto" para afastar possível comprador. Melhor responder que sonho não tem preço!


Para quem ainda não identificou, o "consultor" foi Edson Brandão, amigo/irmão e meu mentor no círculo automotivo.

Nosso amigo Sávio compartilhou, recentemente, duas fotos inéditas e memoráveis: a SM no estado e cor do resgate (acima) e Edson com outra grande paixão, as motos. Valeu Sávio!


Confesso ainda ter dificuldade com o apego natural a cada veículo antigo adotado, porém, começo  a assimilar essas importantes lições. Seus ideais ainda estão presentes em nossa garagem!



Vem novidade por aí? 


Talvez uma troca de figurinhas - e prioridades - no quadro de projetos da ZZ Garage.

Aguardem!
    
PS: A Caravan foi despejada uma segunda vez de vaga alugada. Edson sempre defendeu a hipótese de trocar alguns exemplares por um espaço maior.