terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

"HD Cheio"!

 Triste Bahia sem Memória!

Qualquer pais sério daria um tratamento diferenciado ao guerreiro centenário - quase duo - que ainda resistia nas(os) trilhas(os) históricas(os) do subúrbio de Salvador!

Aposentadoria compulsória dos trens do Subúrbio - Foto: WEB

Após 160 anos de operação, imensa parcela da história de Salvador é simplesmente "deletada" por opção do Governo do Estado da Bahia! 

Quem admira o passado, tradição, história e/ou saudáveis referências, acordou triste no último domingo (14 de fevereiro de 2021), com o fechamento da linha férrea do Subúrbio de Salvador, que ligava o bairro da Calçada ao de Paripe, num total de dez estações.

O antigomobilismo não podia deixar de manifestar toda sua frustração com essa equivocada decisão, tirando até esse blog da estagnação, para argumentar e tentar fortalecer a resistência de grande parte da população e até do Ministério Público. Oremos!

Vamos aos fatos:

A história - um potencial museu à céu aberto - está sendo preterida em função da pretensa modernização do sistema de transporte, mesmo gerando um desconcertante aumento de nove vezes no preço da passagem, impacto indiscutível no orçamento de milhares de famílias da região empobrecida;

 

Estação da Calçada - Foto: WEB

O orçamento, projetado em mais de DOIS BILHÕES DE REAIS, está sendo priorizado para um sistema já existente, que poderia ser simplesmente revitalizado por uma fração desse valor, e o (grande) saldo redirecionado para outras regiões carentes do transporte de massa; 

Desperdício de um imenso potencial turístico, que contaria com a incomparável vista da Baía de Todos os Santos, emoldurada pelas janelas de verdadeiras relíquias sobre rodas e trilhos.

Linha férrea no contorno da Baia de Todos os Santos - Foto:WEB

Qual o cenário ideal?

1 - O reconhecimento do valor histórico dos trens, máquinas impressionantes, poderosas,  carregadas de referências e memórias. Não por acaso, os últimos dias de operação foram marcados por imenso e saudoso público!;

2 - Usar uma fração da verba prevista para o "novo" VLT, em restauração e possível ampliação da rede já existente, incluindo modernização do maquinário e das estações, porém mantendo a essência de antiguidade. 

Quem conhece o universo do antigomobilismo vai absorver mais facilmente esse item, que reforça a diferença entre sucata e relíquia, gerando o desejo "exótico" de resgatar e reconstruir o que a maioria - infelizmente - só enxerga como pilhas de "ferrugem". A memória e história agradecem, a sociedade deveria!;

O argumento de falta de peças para os trens é falso e tendencioso, pois uma fração minima da verba poderia fabricar componentes facilmente, a exemplo de restaurações muito complexas de veículos históricos, ou até mesmo substituir todo o maquinário, mantendo a originalidade visual das locomotivas e vagões. Vale lembrar que esse artifício é usado por muitos países que valorizam o passado;

3 - A maior parte dessa verba seria direcionada para outras áreas carentes de transportes de massa, quem sabe até um VLT para o Litoral Norte, região com grande potencial de crescimento. Acho inacreditável que os gestores públicos prefiram desmontar o que já existe, em detrimento a outras áreas carentes.

A ideia de uma ligação Paripe x Metrô é excelente, pois a união das malhas é benéfica para toda a sociedade, MAS, poderia ser feita também com a simples ampliação da linha férrea atual.

4 - A restauração e modernização do sistema atual, incluindo as estações também históricas, seriam um verdadeiro aditivo ao potencial turístico do percurso! 

Considero um dos mais incríveis roteiros férreos, com um visual inigualável, ponte ímpar, ambiente burlesco, veículo histórico. 

Não pensem que sou contra a modernidade, porém, a falta de respeito com a história é inaceitável, caracterizando a tal "triste Bahia sem memória". Vale lembrar que em muitos países esses dois conceitos coexistem, a exemplo de Metrô de Londres, com ramais antigos e modernos em plena harmonia.


Ponte São João (1860) ligação Lobato / Plataforma  - Foto: WEB

5 - O incremento ao turismo refletiria na renda da população local, num indiscutível processo ganha / ganha, que mesmo assim poderia usufruir de uma espécie de tarifa social, exclusiva para os cadastrados. Certamente os turistas, encantados e bem atendidos, não se negariam a pagar uma passagem com preço convencional, cerca de nove vezes superior ao valor atual. 

Convém lembrar outros emblemáticos exemplos nacionais, como a operação turística da Maria Fumaça no Rio Grande do Sul, um passeio imperdível para todas as idades!

Maria Fumaça - Ferrovia do Rio Grande do Sul - Foto: Acervo Pessoal

Enfim!

Ferrovia fechada, demolição autorizada, bilhões em verba circulando, memória apagada!

Ainda torcemos para que o Ministério Público consiga reverter o "desmanche"!

Pelo sim ou pelo não, alguém sabe dizer se os vagões serão leiloados? Se eu pudesse ...