"A Face do Gênio"
Esse mês completamos, infelizmente, 18 anos sem o incomparável Ayrton Senna.
Seria redundante, portanto denecessário, mencionar suas incríveis façanhas nos monopostos que caracterizaram sua vitoriosa carreira de piloto. Como ídolo mundial, as inúmeras mídias se encarregaram de exibir, exaustivamente, aquelas passagens inesquecíveis que nos faziam acordar cedo, com muito prazer, nas manhãs de domingo.
Acabei lembrando de um excelente livro, que conferi pouco antes daquele terrível dia em Ímola, do escritor inglês Christopher Hilton: A Face do Gênio.
Hilton descreve uma pequena passagem, apenas duas páginas, que é relativamente pouco conhecida, porisso, gostaria de compartilhar com vocês.
Lembrando Senna - "Piloto de Rally"
No segundo semestre de 1986, a revista Cars e Cars Conversions propôs uma matéria muito original: ver como Senna - piloto em evidência já correndo na Fórmula 1 pela equipe Lotus - se sairia experimentando vários carros de rally.
Convite aceito, Senna - descrito na capa da revista como o mais rápido piloto de GP do mundo (observem que ele ainda estava em sua terceira temporada de F1) - foi ao País de Gales, para uma "pista de rally fora de uso, com cascalho, curvas, morros, etc". (descrição da revista).
Cinco "feras" do Mundial de Rally - de diversas categorias - foram disponibilizadas para o teste, todos em plena atividade, alguns às vésperas de importantes competições.
Os bólidos foram, na sequência da foto: 1 - VW Golf GTi; 2 - Ford Scort 4WD com mecânica V6 Cosworth; 3 - Vauxhall Nova Sport; 4 - MG Metro 4WD; 5 - Ford Sierra RS Cosworth.
Modelo em escala
O Sierra Turbo, com "apenas" 300 hp, era o tesouro de Phil Collins - não é o cantor - e participaria da final de um importante torneio logo na semana seguinte. A primeira curva foi desastrosa - para uns arbustos do acostamento - pois as reações do cascalho são totalmente diferentes do asfalto. Senna só erraria essa vez.
Senna andou muito rápido com todos eles, se adaptando rapidamente às caracterìsticas de cada modelo, incluindo a tração nas 4 rodas do Escort e do MG Metro, que o surpreendeu pela extrema estabilidade.
Phil Collins declarou que ele "estava visivelmente se divertindo, atacando as curvas de lado".
Vale lembrar que o desafio da adaptação era quádruplo: 1 - carro "convencional" para quem só competia com karts e monopostos; 2 - direção do lado direito; 3 - trilhas de cascalho contrapondo o costumeiro asfalto; 4 e mais importante - câmbio na mão esquerda. Explico: Senna, canhoto, sempre gostou de cambiar com a mão direita e deixar a mão principal no volante, alegando que ganhava tempo precioso com esse pequeno detalhe (ver terceira foto).
O relaxamento de Collins - preocupado com a final da Sierra Challenge - acabou quando Senna pediu para dar mais uma volta no RS, o mais brutal dos exemplares.
Collins demorou de responder, mas, a autorização foi coroada por uma exibição soberba: "Senna foi brilhante. Estava freando com o pé esquerdo, dando potência no lugar certo, mandando ver, e eu me senti totalmente seguro. E aquele Sierra não era um carro fácil de se conseguir o máximo, com uma ampla faixa de potência, retardo do turbo ... Esse garoto é demais, não há nada a acrescentar."
O autor da idéia - Russel Bulgin - também se manifestou: "A última tentativa de Senna no Cosworth é maravilhosa, Ele toma a última curva para a esquerda em três golpes de direção, botando o carro em cima do barro amontoado na beirada da pista para acertar a saísa. O som do motor não oscila, as mãos surrando o volante. Ele parece um corajoso piloto de rally".
Precisa dizer mais alguma coisa?
Precisa: preocupados com a falta de verba da revista, Bulgin perguntou cauteloso quanto o destacado piloto queria pelo trabalho.
Resposta:
"Não quero nada. Vim aqui para aprender!"
Pesquisa:
A Face do Gênio de Christopher Hilton (1991)
Fotos:
Cars e Cars Conversions
Internet
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