domingo, 4 de março de 2012

Crônica de uma Época

   
Parece até ficção

Tentem mentalizar a seguinte situação: piloto novo - na carreira e idade - um "foguete" muito bem preparado, um circuito desafiador, uma prova longa e desgastante e a chance de dividir curvas com ícones do automobilismo nacional. Para quem gosta de automobilismo parece até roteiro de ficção, não é verdade?

Pois aconteceu mesmo, nas históricas corridas da Avenida Centenário.

Trazendo a realidade, refiro-me a  uma das etapas do Campeonato Brasileiro de Automobilismo de 1969, os 500 Km de Salvador, com nosso amigo Maurício Castro Lima - então com 19 anos - conduzindo um autêntico Willys Interlagos e competindo contra José Carlos Pace, Wilson Fittipaldi, Pedro Victor Dellamare e outros grandes nomes da época.


Como ápices da história, o grande nível de preparação da Berlineta - receita desenvolvida em Sergipe - e as generosas dicas do próprio Pace, em um encontro inesquecível.
   
Môco, como era mais conhecido, pilotava um belíssimo Alfa P-33 da equipe Jolly e acabou vencendo a prova. Grande piloto, infelizmente não teve tempo de explorar todo seu talento, por conta de um terrível acidente aéreo.


Uma curiosidade: a oportunidade de correr com o Willys Interlagos nos 500 Km de Salvador veio extatamente de uma reforma no circuito paulista, que aumentou o interesse e participação nas corridas de rua daquele ano. Desnecessário lembrar que o verdadeiro nome do histórico circuito é Autódromo José Carlos Pace.

Detalhes ?

Com a palavra, Maurício Castro Lima, a quem agradecemos a bela documentação de uma época realmente especial !

Eu, a Berlineta e Môco.
  

O ano era 1969, um belo dia ensolarado como a cidade do Salvador bem conhece, mas não era um dia comum, pelo menos para os amantes do automobilismo em todo o país, os quais naquele exato momento tinham a atenção voltada para a nossa cidade, mais precisamente o circuito da Avenida do Centenário pois ali estava sendo formado o grid de largada para uma das provas de maior importância do Campeonato Brasileiro de Pilotos da C.B.A.



Com o fechamento de Interlagos para reformas, algumas provas de rua a exemplo dos 500 km de Salvador, passaram a fazer parte do campeonato desde o ano anterior e obviamente passaram a ter mais importância para dirigentes, equipes, pilotos e imprensa.
   

Para os 500 km deste ano, vieram carros e pilotos de vários estados brasileiros, tais como Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Sergipe e Distrito Federal, além da Bahia é claro.
    

De repente, ali estava eu aos 19 anos de idade, curtindo um dos momentos mais emocionantes da minha vida, pois afinal havia chegado à elite do automobilismo brasileiro, daí a alguns momentos estaria correndo contra Piero Gancia, Emilio Zambello, Marivaldo Fernandes, Wilson Fittipaldi, Mario Olivetti, Ubaldo Lolli, Ênio Garcia, Pedro Victor Dellamare, Jaime Silva, Lian Duarte, Toto Porto Filho e tantos outros pilotos que representavam o que tinha de melhor nas corridas brasileiras.

     

Uma semana antes estive ameaçado de não poder correr, pois o VW divisão 3 que iria usar ficou muito avariado após uma batida contra um caminhão que estava parado no meio de uma curva em local sem iluminação alguma, perto da área que estávamos usando para testes e amaciamento do motor, foi quando Eduardo Ribeiro que era dono do Posto do Cristo e também diretor esportivo do Automóvel Clube, colocou-me em contato com Arivaldo Carvalho de Sergipe, que iria correr com uma berlineta Willys Interlagos e precisava de um piloto para fazer a dupla exigida pela prova de longa duração.
      

Finalizamos o nosso acordo e três dias antes da corrida tive o primeiro contato com a máquina, ai pude perceber como o Willys Interlagos é cativante e gostoso de pilotar, ágil e de estabilidade impressionante, que no carro de Arivaldo ainda estava melhor devido aos pneus importados e a excelente preparação de motor, suspensão e cambio mais longo.

     

Mas, voltando ao grid, eu estava ao lado da berlineta conversando com Nandinho, que era um dos donos da Mecânica Walman, que naquela época era quem preparava meus carros para correr, quando chegou o Môco, muito simpático e atencioso e começou a fazer perguntas sobre o carro, qual a preparação etc. acariciou o teto da berlineta e disse: “é uma pequena joia, grande parte de minha carreira foi pilotando algumas delas”, depois quis saber quantas corridas eu já tinha feito, ai me deu varias dicas e por fim ele disse,” Olha garoto, cuida bem dela que você chega ao fim, mas não deixa o giro subir muito pois esta muito quente e ela pode superaquecer e fundir o motor”,ai foi se afastando e me desejou boa sorte, no que prontamente retribui.
      

Moco em dupla com Marivaldo Fernandes partiu para a vitória com a espetacular Alfa P33 da equipe Jolly Gancia e nós, mesmo com a quebra da caixa de marchas, ainda conseguimos ficar com o segundo lugar na classe até 1000cc, pois já tínhamos feito mais da metade do tempo da prova quando o carro quebrou.

Mauricio de Castro Lima
Salvador- Bahia / junho de 2011
      

Valeu Maurício !



















2 comentários:

  1. Carlos,

    Muito bacana esse história. Parabéns!

    Abs

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    1. Valeu André !

      Aproveito para agradecer a Maurício, que disponibilizou seus históricos arquivos.

      Um grande abraço.

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