O carro mais antigo do Brasil
O Clement Panhard (1900) da família Lanat foi o quinto carro a rodar em terras brasileiras, tendo chegado da França em fevereiro de 1901.
Passeio inaugural no bairro do Garcia
Os outros quatro pioneiros não resistiram à passagem do tempo e o Panhard tornou-se o mais antigo do país, um verdadeiro sobrevivente.
Já conhecia a saga dos dois primeiros, curiosamente conduzidos por personalidades históricas, incluindo o interessante caso do primeiro acidente automobilístico do país. Resolvi pesquisar os outros dois.
O primeiro foi um Peugeot. Chegou em Santos em 1893, trazido da França por Alberto Santos Dumont, inventor do relógio de pulso e de um outro brinquedinho de alcance mundial (rs,rs,rs) - apesar da negação dos americanos!
O mais incrível é que esse carro não findou no Brasil, sendo "exportado" novamente para a França quando o inventor foi morar definitivamente em Paris.
O segundo foi trazido da França em 1897 pelo conhecido abolicionista José do Patrocínio. Esse exemplar foi logo destruído - inaugurando as estatísticas de acidentes automobilísticos - pelo poeta Olavo Bilac, amigo e "aluno" de "pilotagem". A aventura terminou numa árvore no Alto da Boa Vista.
Sobre o mesmo assunto, Ruy Castro descreve o acidente em seu livro “Bilac vê as estrelas”, um romance que mescla fatos reais com ficção. (Bilac vê as estrelas, Companhia das Letras, 2000, páginas 14 e 15):
“ Era o primeiro automóvel do Rio – um Peugeot preto que saltava os traques mais explosivos e constrangedores. Desembaraçado no Cais do Porto, Patrocínio girou a manivela e entrou nele, de quepe e guarda-pó, sob os aplausos da multidão...
(...) Dias depois convidou Olavo Bilac para dar uma volta. E este, peralta como ele só, também quis dirigir a geringonça.
O próprio Patrocínio mal sabia fazer o carro andar em linha reta, mas achava-se com ciência para instruir Bilac. Os dois passaram por cima um do outro no assento e trocaram de lugar. Patrocínio mostrou-lhe como dar a partida e Bilac, sem controle dos pés e das mãos, pisou na tábua até o fundo, com o ímpeto de quem esmaga uma lacraia. O carro soltou dois ou três puns ribombantes, disparou em ziquezaque pela até então pacata ruela suburbana e, cem metros depois, achatou-se contra a única arvore à vista. Nenhum dos dois se machucou. Só o carro levou a breca”.
O terceiro chegou também em 1897, foi importado pela fábrica Moinho de Ouro de Álvaro Fernandes da Costa Braga, era a vapor e foi o primeiro dedicado ao trabalho, o que reduziu sua vida útil.
O quarto foi um Peugeot importado em 1898 pela família Tobias de Aguiar, descendentes do fundador da Polícia Militar paulista. Não descobri registro sobre o fim do exemplar.
Ironicamente a baixa potência foi um dos fatores de sobrevivência do Panhard dos Lanat, pois o único cilindro mostrou-se insuficiente para as ladeiras de Salvador. O industrial José Henrique Lanat logo importou um modelo maior e mais potente, quardando o Panhard com todo o carinho na oficina da família.
O resto da história vocês já conhecem!
Grande amigo Seixas, gostei muito da pesquisa, porém gostaria de fazer uma pequena observação:
ResponderExcluirA Voiture Clement Panhard & Levassor da família Lanat na verdade foi o sexto automóvel a rodar em terras brasileiras e o quarto a rodar com motor a explosão. É que na sua conta esta esquecendo do primeiro "auto móvel" a vapor que foi importado pelo baiano Antônio Pereira Rocha em 1871, antes da invenção do motor à combustão interna tendo sido portanto a cidade de Salvador a primeira a ter um automóvel!
Um abraço,